Desde 1991, a Organização Mundial
da Saúde (OMS), em parceria com a UNICEF, tem empreendido esforços para
proteger, promover e apoiar o aleitamento materno com a finalidade de reduzir a
mortalidade infantil em todo o mundo. Por conta disso, criou uma lista com três
recomendações básicas relativas à amamentação:
1. Aleitamento
materno exclusivo até os seis meses de idade. Até essa idade, a criança não
deve consumir nenhum tipo de complemento ou bebida;
2. A
partir dos seis meses de idade, outros alimentos devem ser introduzidos na
dieta da criança de maneira progressiva, orientada por um profissional de saúde
e o aleitamento materno deve ser mantido;
3. As
crianças devem continuar sendo amamentadas pelo menos até completarem dois anos
de idade.
Durante os anos de 1980 ocorreu um
aumento bastante significativo na produção de estudos científicos sobre o leite
humano. A maioria desses estudos comprova os benefícios e vantagens do
aleitamento, principalmente para neonatos. Ainda constatam que a substituição
do leite materno por outros alimentos, inclusive as fórmulas infantis, está
associada a um risco aumentado de mortalidade infantil por contaminação e
desnutrição, além de aumentar o risco de desenvolvimento de alergias, diabetes,
obesidade em idade adulta e maior suscetibilidade a doenças infectocontagiosas.
Esses estudos confirmaram as
primeiras hipóteses levantas entre as décadas de 1930 a 1970, principalmente
pela pediatra jamaicana Cicely Williams e pelo pediatra americano Derrick
Jelliffe que alertaram para os riscos da substituição do leite materno por
fórmulas industrializadas. Em 1939, a doutora Williams proferiu uma palestra
intitulada “Leite e assassinato” na qual enfatizou as possíveis consequências
do uso de leite condensado e da propaganda enganosa sobre alimentação infantil.
Na década de 1960, Jelliffe publicou um artigo no qual criou o termo “desnutrição
comerciogênica”. Nesta publicação ele atenta para a influência dos
profissionais de saúde e da propaganda das indústrias alimentícias,
principalmente nos países em desenvolvimento, sobre os hábitos maternos no que
se refere à alimentação das crianças.
Após a Primeira Guerra Mundial
(1914-1918) o consumo de leite em pó começou a se difundir no Brasil. A partir
daí a indústria alimentícia passou a influenciar a produção de conhecimento
científico relativo à nutrição infantil, pois o uso desse alimento era tido
como recurso terapêutico. Começou nesse período a produção de leites
enriquecidos com vitaminas e minerais e o profissional de saúde passou a ser um
importante agente de promoção desse produto.
Durante a década de 1920 e 1930,
cresceram as propagandas de incentivo ao consumo ao leite em pó por crianças
pequenas, em casos especiais. Já nas décadas de 1940 e 1950, a publicidade era
voltada para as vantagens nutricionais para todas as crianças, inclusive as de
saúde perfeita. Além disso, sugeriam que as fórmulas infantis possuíam
qualidade superior ao leite humano. A partir daí, surge a ideia de alimentar
crianças com fórmulas desde o nascimento.
Nos anos de 1970, a televisão se
popularizou no Brasil e, mais uma vez, a população foi influenciada por
propagandas de alimentos infantis. Concomitantemente, as mulheres brasileiras
começaram a aumentar sua participação no mercado de trabalho. O uso de fórmulas
infantis permitiu que muitas dessas mulheres pudessem voltar às suas funções
profissionais pouco tempo após o parto, pois já não precisavam mais amamentar.
Aos seus filhos eram receitadas fórmulas que substituíam o leite materno.
O pouco conhecimento científico
produzido até então não era suficiente para explicar porque algumas mães não
conseguiam amamentar por produzir pouco leite e davam respaldo para o argumento
de que o leite humano seria “fraco” e não conseguiria suprir as necessidades
nutricionais do bebê e, portanto, seria necessário o uso de alimentos
artificiais. O resultado disso é que durante a década de 1970 a produção de
leite em pó quadruplicou no país e, ao mesmo tempo, o período médio de
amamentação era de apenas 2,5 meses.
Com o aumento da produção de
conhecimentos sobre o leite humano ocorrida nos anos de 1980, as propagandas de
fórmulas e alimentos infantis se tornaram mais discretas, mas não acabaram.
Durante o fim dos anos 1980 e a década de 1990, o foco da indústria se voltou
para o desenvolvimento de fórmulas para públicos específicos como prematuros,
portadores de alergias e intolerâncias alimentares.
Desde 1981 o governo federal
possui um Programa Nacional de Incentivo
ao Aleitamento Materno. O programa foi lançado com o objetivo de treinar
profissionais de saúde a aconselhar e instruir as mães sobre o ato de amamentar
e seus benefícios, além de promover a produção de material educativo,
estabelecer grupos de apoio à amamentação, leis de proteção ao aleitamento
materno e controle de propagandas de fórmulas infantis.
O programa brasileiro de
aleitamento materno é reconhecido internacionalmente devido ao seu sucesso com
a Rede Brasileira de Leite Humano que é a maior e mais complexa do mundo, com
cerca de 270 bancos de leite espalhados pelo país. Entre os anos de 2003 e
2008, a coleta de leite aumentou 56% e o número de doadoras dobrou. Os bancos
de leite são responsáveis por alimentar cerca de 113 mil bebês recém-nascidos
internados em UTIs neonatais por todo o Brasil.
A adoção do Código Internacional
de Substitutos do Leite Materno a partir da criação da Norma Brasileira de
Comercialização de Alimentos para Lactentes, em 1988, foi importante para regulamentar
a promoção e orientar para o uso apropriado de alimentos destinados a crianças
de até três anos de idade.
É importante destacar que a
licença maternidade passou de quatro para seis meses em 2008 e em 2009 foi
publicada uma portaria que regulamenta o espaço físico e os materiais
necessários para que as empresas criem salas de apoio à amamentação. Essas
iniciativas são muito importantes para evitar que mulheres que estão inseridas
no mercado de trabalho parem de amamentar.
Desde 1992 é comemorada a Semana
Mundial da Amamentação com a participação da mídia e da sociedade. Essa semana
é celebrada entre os dias 1º e 7 de agosto em 120 países, inclusive o Brasil.
PARA DEBATER:
Qual a sua opinião sobre a
amamentação? O que você pensa sobre a substituição do leite materno por
produtos industrializados destinados ao público infantil?
Como a indústria de alimentos
influencia os pais?
Como as políticas públicas podem
melhorar no sentido de proteger as crianças e os pais contra as propagandas
enganosas de alimentos?
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS:
BRASIL. Conheça o Programa Nacional de Incentivo ao Aleitamento
Materno . Disponível em <http://www.brasil.gov.br/ciencia-e-tecnologia/2010/12/programa-nacional-de-incentivo-ao-aleitamento-materno>. Acesso em : 13/03/2016.
MONTEIRO, R. Brazilian guidelines for marketing baby food: history,
limitations and perspectives. Revista Panamericana de Salud
Pública, v. 19, n. 5, p. 354-362, 2006.
PIRES, Celina. Tudo o que precisa de saber para amamentar
com sucesso! Disponível em:
<www.leitematerno.org>. Acesso em: 13/03/2016.
SOUZA,
Carolina Belomo. Disponível em:
https://mamamiaamamentar.files.wordpress.com/2010/12/texto-revista-francesa.pdf. Acesso
em: 13/03/2016.
ALUNAS: CRISTIANE RÉGIS E KELLY VIDAL
(Licenciandas de Ciências Biológicas da UFRJ).
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