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segunda-feira, 14 de março de 2016

O aleitamento materno e as pressões das indústrias alimentícias.



     Desde 1991, a Organização Mundial da Saúde (OMS), em parceria com a UNICEF, tem empreendido esforços para proteger, promover e apoiar o aleitamento materno com a finalidade de reduzir a mortalidade infantil em todo o mundo. Por conta disso, criou uma lista com três recomendações básicas relativas à amamentação:
1.       Aleitamento materno exclusivo até os seis meses de idade. Até essa idade, a criança não deve consumir nenhum tipo de complemento ou bebida;
2.       A partir dos seis meses de idade, outros alimentos devem ser introduzidos na dieta da criança de maneira progressiva, orientada por um profissional de saúde e o aleitamento materno deve ser mantido;

3.             As crianças devem continuar sendo amamentadas pelo menos até completarem dois anos de idade.
Durante os anos de 1980 ocorreu um aumento bastante significativo na produção de estudos científicos sobre o leite humano. A maioria desses estudos comprova os benefícios e vantagens do aleitamento, principalmente para neonatos. Ainda constatam que a substituição do leite materno por outros alimentos, inclusive as fórmulas infantis, está associada a um risco aumentado de mortalidade infantil por contaminação e desnutrição, além de aumentar o risco de desenvolvimento de alergias, diabetes, obesidade em idade adulta e maior suscetibilidade a doenças infectocontagiosas.


Esses estudos confirmaram as primeiras hipóteses levantas entre as décadas de 1930 a 1970, principalmente pela pediatra jamaicana Cicely Williams e pelo pediatra americano Derrick Jelliffe que alertaram para os riscos da substituição do leite materno por fórmulas industrializadas. Em 1939, a doutora Williams proferiu uma palestra intitulada “Leite e assassinato” na qual enfatizou as possíveis consequências do uso de leite condensado e da propaganda enganosa sobre alimentação infantil. Na década de 1960, Jelliffe publicou um artigo no qual criou o termo “desnutrição comerciogênica”. Nesta publicação ele atenta para a influência dos profissionais de saúde e da propaganda das indústrias alimentícias, principalmente nos países em desenvolvimento, sobre os hábitos maternos no que se refere à alimentação das crianças. 

     Após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) o consumo de leite em pó começou a se difundir no Brasil. A partir daí a indústria alimentícia passou a influenciar a produção de conhecimento científico relativo à nutrição infantil, pois o uso desse alimento era tido como recurso terapêutico. Começou nesse período a produção de leites enriquecidos com vitaminas e minerais e o profissional de saúde passou a ser um importante agente de promoção desse produto.
Durante a década de 1920 e 1930, cresceram as propagandas de incentivo ao consumo ao leite em pó por crianças pequenas, em casos especiais. Já nas décadas de 1940 e 1950, a publicidade era voltada para as vantagens nutricionais para todas as crianças, inclusive as de saúde perfeita. Além disso, sugeriam que as fórmulas infantis possuíam qualidade superior ao leite humano. A partir daí, surge a ideia de alimentar crianças com fórmulas desde o nascimento.
Nos anos de 1970, a televisão se popularizou no Brasil e, mais uma vez, a população foi influenciada por propagandas de alimentos infantis. Concomitantemente, as mulheres brasileiras começaram a aumentar sua participação no mercado de trabalho. O uso de fórmulas infantis permitiu que muitas dessas mulheres pudessem voltar às suas funções profissionais pouco tempo após o parto, pois já não precisavam mais amamentar. Aos seus filhos eram receitadas fórmulas que substituíam o leite materno.

     O pouco conhecimento científico produzido até então não era suficiente para explicar porque algumas mães não conseguiam amamentar por produzir pouco leite e davam respaldo para o argumento de que o leite humano seria “fraco” e não conseguiria suprir as necessidades nutricionais do bebê e, portanto, seria necessário o uso de alimentos artificiais. O resultado disso é que durante a década de 1970 a produção de leite em pó quadruplicou no país e, ao mesmo tempo, o período médio de amamentação era de apenas 2,5 meses.
Com o aumento da produção de conhecimentos sobre o leite humano ocorrida nos anos de 1980, as propagandas de fórmulas e alimentos infantis se tornaram mais discretas, mas não acabaram. Durante o fim dos anos 1980 e a década de 1990, o foco da indústria se voltou para o desenvolvimento de fórmulas para públicos específicos como prematuros, portadores de alergias e intolerâncias alimentares.

      Desde 1981 o governo federal possui um Programa Nacional de Incentivo ao Aleitamento Materno. O programa foi lançado com o objetivo de treinar profissionais de saúde a aconselhar e instruir as mães sobre o ato de amamentar e seus benefícios, além de promover a produção de material educativo, estabelecer grupos de apoio à amamentação, leis de proteção ao aleitamento materno e controle de propagandas de fórmulas infantis.
O programa brasileiro de aleitamento materno é reconhecido internacionalmente devido ao seu sucesso com a Rede Brasileira de Leite Humano que é a maior e mais complexa do mundo, com cerca de 270 bancos de leite espalhados pelo país. Entre os anos de 2003 e 2008, a coleta de leite aumentou 56% e o número de doadoras dobrou. Os bancos de leite são responsáveis por alimentar cerca de 113 mil bebês recém-nascidos internados em UTIs neonatais por todo o Brasil.
A adoção do Código Internacional de Substitutos do Leite Materno a partir da criação da Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes, em 1988, foi importante para regulamentar a promoção e orientar para o uso apropriado de alimentos destinados a crianças de até três anos de idade.

     É importante destacar que a licença maternidade passou de quatro para seis meses em 2008 e em 2009 foi publicada uma portaria que regulamenta o espaço físico e os materiais necessários para que as empresas criem salas de apoio à amamentação. Essas iniciativas são muito importantes para evitar que mulheres que estão inseridas no mercado de trabalho parem de amamentar.
Desde 1992 é comemorada a Semana Mundial da Amamentação com a participação da mídia e da sociedade. Essa semana é celebrada entre os dias 1º e 7 de agosto em 120 países, inclusive o Brasil.



PARA DEBATER:
Qual a sua opinião sobre a amamentação? O que você pensa sobre a substituição do leite materno por produtos industrializados destinados ao público infantil?
Como a indústria de alimentos influencia os pais?
Como as políticas públicas podem melhorar no sentido de proteger as crianças e os pais contra as propagandas enganosas de alimentos?


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BRASIL. Conheça o Programa Nacional de Incentivo ao Aleitamento Materno . Disponível em <http://www.brasil.gov.br/ciencia-e-tecnologia/2010/12/programa-nacional-de-incentivo-ao-aleitamento-materno>. Acesso em : 13/03/2016.

MONTEIRO, R. Brazilian guidelines for marketing baby food: history, limitations and perspectives. Revista Panamericana de Salud Pública, v. 19, n. 5, p. 354-362, 2006.  
PIRES, Celina. Tudo o que precisa de saber para amamentar com sucesso! Disponível em: <www.leitematerno.org>.  Acesso em: 13/03/2016.
SOUZA, Carolina Belomo. Disponível em: 



ALUNAS: CRISTIANE RÉGIS E KELLY VIDAL (Licenciandas de Ciências Biológicas da UFRJ).



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quarta-feira, 9 de março de 2016

AEDES, CRISE DE IDENTIDADE - ZIKA, DENGUE, CHIKUNGUNYA E FEBRE AMARELA





Os mosquitos do gênero Aedes são vetores de diversas doenças, a dengue por exemplo pode ser encontrada no Aedes aegypti, no Aedes albopictus e no Aedes polynesiensis.
Com o primeiro registro na África, em 1881, o Aedes aegypti foi reconhecido pela primeira doença que transmitia, a Febre Amarela. Estudos indicam que ele chegou nas Américas através de embarcações da Europa, tendo sua primeira aparição no Brasil em 1898. Em 1906 surgem as primeiras evidencias de que ele também era vetor da dengue. Atualmente, o mosquito Aedes é reconhecido como vetor de 4 doenças: Febre Amarela, Zika, Chikungunya e Dengue. O mosquito é combatido no mundo desde o século XIX.
Enquanto o Aedes aegypti é um mosquito que predomina em qualquer lugar onde possa se reproduzir e esteja mais intimamente ligado a vida humana, o Aedes albopictus é preferencialmente um mosquito de florestas e ambientes rurais, a espécie é mais frequente na África e nas Américas, tendo sua primeira aparição no Estado do Rio de Janeiro em 1986. O Aedes albopictus tem capacidade de transmitir a Dengue, Febre Amarela e a Encefalite Equina Venezuelana.  O Aedes polynesiensis também é vetor da Dengue e de outras doenças,  como a Filariose (infestação do sangue e dos tecidos por diversos vermes Filaria,  e causa reação inflamatória e obstrução dos vasos sanguíneos) e a Dirofilariose canina.
No Brasil, inicialmente o Aedes aegypti transmitia somente Dengue, com casos isolados de Febre Amarela, porém, com o passar dos anos e com todas as condições favoráveis para sua reprodução o mosquito passou a ter variações genéticas que o tornaram um agente intermédio de outras doenças como a Zika e a Chikungunya.
Vejamos a seguir alguns fatos que “ajudam” na dispersão do mosquito:
Ele tem grande capacidade de adaptação ao ambiente humano. Preferencialmente coloca seus ovos em água limpa, porém pode desovar em águas ricas em matéria orgânica. Sendo assim, qualquer objeto pode servir de criadouro para seus ovos e larvas.
Caso o ambiente deixe de ser favorável para a eclosão da larva, os ovos têm capacidade de permanecer latentes por até 1 ano, até que o local volte a ser favorável, então as larvas eclodem e em 7 dias há novos mosquitos.
A fêmea distribui os ovos, ou seja, ela não faz uma única desova, ela distribui seus ovos em diversos locais, assim a chance de sobrevivência é maior.
Outros mosquitos ou pernilongos têm habito noturno, o que não acontece com o Aedes, ele pode se alimentar de manhã ou a noite, dependendo da disponibilidade de alimentos.
Graças a grande plasticidade genética do mosquito, muitos vírus puderam evoluir juntamente com ele, e se adaptaram um ao outro.
O vírus pode ser passado da fêmea para os ovos, então não é preciso que os filhotes adquiram o vírus de outro meio, ele já nasce com ele.
Para combater o mosquito, a forma mais utilizada em residências é o inseticida, pois ainda há muita carência de informação para que a população faça o controle e a correta verificação da sua residência, a fim de evitar a procriação do mosquito. Porém, o uso contínuo desses produtos provocou e tem provocado o aparecimento de populações resistentes. Quando nos deparamos com esse tipo de situação a primeira alternativa é utilizar uma maior quantidade de produto, porém a resistência é proporcional a intensidade de uso. Quanto mais produto você utilizar, mais rapidamente vai acontecer a seleção de populações cada vez mais resistentes, causando uma maior complicação no controle desse vetor, sendo necessário a utilização de outras substancias com modos diferentes de ação.
Não podemos esquecer que o uso excessivo de inseticidas pode afetar a saúde do homem que entra em contato com esses produtos químicos, pode haver intoxicação, e também afetar o equilíbrio natural, como a eliminação de outros animais benéficos, e a contaminação da água, solo e da atmosfera. Todos esses fatores levam a ciência a buscar alternativas para efetuar o controle de vetores, o que ainda está sendo estudado.

Questão para debate:
Como você acha que podemos diminuir o aparecimento desses mosquitos em nossa casa?
Você acha que é possível controlar os vetores, de forma natural? Como?

Referencias
BRAGA, Ima; VALLE, Denise. Aedes aegypti – Inseticidas, mecanismos de ação e resistência. Disponível em: <https://www.ufrgs.br/rscontraaedes/materiais/artigo-aedes-aegypti-inseticidas-mecanismos-de-acao-resistencia.pdf>. Acesso em: 04 de março de 2016.
BARIFOUSE, Rafael. Porque o mosquito Aedes Aegypti transmite tantas doenças? Disponível em:  http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/12/151202_aedes_aegypti_vetor_doencas_. Acesso em: 04 de março de 2016.
BARRETO, Cleyde. Aedes, resistência aos inseticidas químicos e as novas alternativas de controle. Disponivel em:<http://docplayer.com.br/115330-Aedes-aegypti-resistencia-aos-inseticidas-quimicos-e-as-novas-alternativas-de-controle.html>. Acesso em: 06 de março de 2016.
PALMA, Ana; OLIVEIRA, Miguel. Outros transmissores da Dengue. Disponivel em: <http://www.invivo.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=1411&sid=2>. Acesso em: 07 de março de 2016.
Filariose Linfatica. Disponivel em: <http://www.invivo.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=106&sid=8>. Acesso em: 07 de março de 2016.

AUTORIA:

Jacykaysla Pacheco da Silva - Licencianda em Ciencias Biologicas/UFRJ - PIBEX