Criança ou adulto em miniatura? De volta ao século XV...
No século XV, um pouco mais de 500
anos atrás, o termo “criança” ou “infância” não existia. Naquela época, as
crianças eram vistas como “ADULTOS EM MINIATURA”, ou seja, eram tratadas e
vestidas como adultas. Também não possuíam direitos ou deveres como criança.
Para a sociedade, elas só precisavam crescer! Havia uma grande valorização do
adulto, isso porque das crianças que nasciam poucas conseguiam se desenvolver,
muitas morriam antes mesmo de chegar à fase que hoje conhecemos como
adolescência, já que naquele tempo havia muitos problemas com doenças. Sendo
assim, as crianças como seres mais sensíveis às patologias, somadas ao escasso
atendimento médico, na maioria das vezes, acabavam morrendo. Devido à mortalidade
excessiva, as mães eram aconselhadas a não se apagarem aos seus filhos. Em
muitos casos também não havia o cuidado na família, sendo as crianças entregues
às ‘casas de cuidado’. Ao chegarem à idade em que podiam trabalhar, estavam
“livres” para seguir com suas vidas. As crianças que conseguiam chegar à fase
da adolescência já eram consideradas adultas.
“Desde os começos da nova indústria, as crianças foram empregadas nas fábricas. (...) A alta taxa de mortalidade que se verifica entre os filhos dos operários, especialmente dos operários fabris, é uma prova suficiente da insalubridade do ambiente em que transcorrem os primeiros anos de vida.” (ENGELS, 2008, [1845], p. 187)
INSALUBRIDADE: condições
prejudiciais à saúde, além do limite tolerado pelo indivíduo.
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“As roupas
severas e rebuscadas das meninas do século XIX revelam a pouca preocupação da
época por trajes que deixassem a criança à vontade. Os cabelos frisados ou
presos em penteados elaborados, as jóias e adereços que confundem-se com os de
adultos, a expressão séria, acompanhada do livro, servem para complementar a
impressão de que estamos observando, na verdade, adultos em miniatura.” (FONTE: Exposições Virtuais)
Um filósofo e educador chamado
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), se atentou para acontecimentos da época e percebeu
que alguma coisa estava errada. Ele observou que uma criança tinha necessidades
diferentes dos adultos, e que eram seres que precisavam de mais atenção e
cuidados especiais, além de melhores condições de vida para um melhor
desenvolvimento. Diante desses fatos, concluiu que elas não podiam mais ser
chamadas e nem tratadas como adultos em miniatura. Ele passou a defender uma
maneira revolucionária e inovadora de educação para sua época, a educação de
acordo com a natureza do indivíduo, onde cada fase de vida deveria ser
valorizada. Com seus estudos passamos a ter outra compreensão da infância, da
adolescência e da fase adulta. Rousseau tornou-se um grande filósofo em sua
época. A partir de suas ideias, cada vez mais as crianças foram adquirindo
direitos e deveres. Com o passar dos anos, surgiram os ‘Jardins de Infância’
(termo dado por Rousseau), que foram as primeiras escolas voltadas ao
desenvolvimento da criança. Leis de defesa das crianças e adolescentes foram
criadas, para que não mais fossem explorados e tratados como adultos.
Aula de natação no clube Sírio Libanês
Rio de
Janeiro, 1971 (FONTE:
Exposições Virtuais)
Na sociedade atual, vemos pais cada
vez mais preocupados com o futuro de seus filhos e, por este motivo, muitas
crianças saem da escola e vão direto para o curso de língua estrangeira, aulas
esportivas, as meninas levadas para o ballet, ou, ainda, para jornada dupla na
escola. Após um dia cheio de atividades, as crianças chegam em casa e ainda
precisam fazer as tarefas escolares. Diversificar atividades é muito importante
para o desenvolvimento infantil, mas a realidade é que elas vêm trazendo cada
vez mais responsabilidades para as crianças e substituído a “hora de brincar”
por uma pesada rotina de obrigações.
Mas pra quê brincar? A rotina de
atividades e o avanço da tecnologia fez com que as crianças perdessem o
interesse pelos brinquedos tradicionais e, muitas já possuem muito cedo
aparelhos celulares. Essa suposta perda de interesse obrigou os fabricantes a
“informatizarem” seus brinquedos para que eles atraiam o interesse infantil.
(FONTE:
Imagens do Google)
Além disso, as roupas e os acessórios
para a criança passaram a acompanhar a estética adulta. As meninas desde cedo
já aprendem a se maquiar e pintar as unhas, assim como escolhem brincos e
colares para usarem com suas roupas modernas. Até concursos de “miss mirim” já
existem. Os meninos com suas roupas, tênis e cordões, geralmente utilizados por
adultos não ficam atrás. As crianças estão cada vez mais biologicamente e
psicologicamente parecidas com os adultos, mas nem sempre elas agem ou devem
ser tratadas dessa forma.
Roupas “tal
mãe, tal filha”
(FONTE:
Imagens do Google)
Vamos debater?
- · “A criança precisa de liberdade para viver e aproveitar cada fase da sua vida, em seu devido tempo e não ser considerada um adulto em miniatura.” Jean-Jacques Rousseau (1712-1778). Discuta esta frase de Rousseau e responda: você acredita que estamos vivendo em uma sociedade que “obriga” nossas crianças a viver como adultos em miniatura?
- Após assistir ao documentário “Criança, a alma do negócio”, discuta a parcela de responsabilidade da família, da mídia ou da sociedade pela proteção à infância.
Bibliografia:
- FERRARI, Márcio. Jean Jacques Rousseau, o filósofo da liberdade como valor supremo. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/formacao/filosofo-liberdade-como-valor-supremo-423134.shtml. Acesso em 16 de julho de 2014.
- COURA, Aline Sarmento. Princípios fundamentais da educação em Rousseau. Disponível em: http://www.unicamp.br/~jmarques/gip/AnaisColoquio2005/cd-pag-texto-03.htm. Acesso em 16 de julho de 2014.
- ENGELS, Friederich (1845) A situação da classe trabalhadora na Inglaterra. São Paulo: Boitempo Editorial, 2008.
- NASCIMENTO, Cristiane Valéria Furtado e MORAES, Márcia Andrea Soares de. Rousseau e as novas ideias sobre a educação. Disponível em: http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/per03.htm. Acesso em 16 de julho de 2014.
- Exposições Virtuais: imagens da mulher brasileira – Adulto em miniatura. Disponível em: http://www.exposicoesvirtuais.arquivonacional.gov.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=109. Acesso em 16 de julho de 2014. (FONTE DAS IMAGENS)
Autoria:
Maiara
Pereira Barreto (Licencianda de Ciências Biológicas – UFRJ)
Bolsista
PIBEX – IB/CCS/FE
Olá,
ResponderExcluirGostei muito do texto! Sou Diretor de Escola em São Mateus São Paulo, Região de grande pobreza e vulnerabilidade infantil. Gostaria muito de trabalhar este tema em nosso estudos pedagógicos. Além de acrescentar este texto. Nosso intuito é promover o debate de que a criança é um ser completo. E por isso dar mais autonomia na escola, inclusive para que possam resolver seus próprios conflitos.
Ainda, há outras obras que vc aconselharia? Eu me recordo de um escritor canadense que li ainda na faculdade (há uns 15 anos) mas não lembro o nome... Obrigado e parabéns!
Pedro da Mota Pereira.
Os jardins de infância já existiam na idade média.
ResponderExcluirmuito bom mesmo o testo , e as referencias
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