O Projeto Clipping soma-se às ações em
desenvolvimento no Projeto Fundão Biologia - Desafio para a Universidade -, que
desde 1983 desenvolve ações de formação continuada de professores, pesquisas no
campo da Educação em Ciências, consolidação de acervos didáticos e elaboração
de materiais educativos, dentre outras ações. A partir de 2012, lançamos a
proposta do ‘Projeto Clipping
Socioambiental, informação e debate nas salas de aula’, objetivando ampliar
a interlocução com a escola, oferecendo um material educativo de fácil acesso,
no formato de um BLOG e divulgado no FB. O material propõe
a adoção de uma metodologia de trabalho que facilite a ação docente crítica e a
participação discente via argumentação. Além disso, pretende a compreensão das
disputas ideológicas que envolvem a construção do conhecimento científico.
Clipping é uma ‘gíria’
de língua inglesa, significa “recorte
de jornal”. Em nosso projeto, os clippings passam a assumir o papel de
material pedagógico pela sua capacidade de atrair o leitor, ao apresentar
rapidamente o conteúdo de informações. A clipagem de notícias pode acontecer
nas redes sociais, blogs, webjornais, e também no rádio e mesmo na televisão.
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A BASE TEÓRICO-METODOLÓGICA
Questões sociocientíficas e
argumentação, pensando a construção de materiais educativos.
O
corpo teórico que nos orienta baseia-se na perspectiva da linguagem de Mikhail
Bakhtin (1929-1930) e da semiótica social de Kress e van Leeuwen (1996).
Baseia-se na compreensão de que o processo educativo/comunicativo depende do
engajamento, da participação dos interlocutores em um processo ativo de
interação sócio-discursiva que, em nosso projeto, inclui texto escrito e
imagético (da mídia educativa - clipping) e texto oral (argumentação na sala de
aula). Nossa hipótese é que o processo de construir seus próprios textos, isto
é, autorar (COHEN e MARTINS, 2008) confere ao professor e ao aluno uma
aproximação com formas ditas ‘científicas’ de produção e de comunicação do
conhecimento.
O
uso de temáticas sociocientíficas (SANTOS, MORTIMER & SCOTT, 2001; REIS,
2004), nos remete à perspectiva que busca aproximar universos discursivos
complementares, quais sejam, da produção científica (conhecimento novo), papel
da universidade pública; e da perpetuação deste conhecimento através do ensino
realizado pela escola pública (conhecimento científico-escolar).
Para
pensar o ato educativo, trazemos referências da educação em ciências que
trabalham com a relação entre argumentação e ensino-aprendizagem, tais como
Jiménez Aleixandre (2002), Kuhn (1993), Nascimento e Vieira (2009), Reis (2004),
Teixeira (2009), dentre outros. Compreendemos que a
“ciência progride através de discussão, conflito e argumentação e não através de concordância geral e imediata. Em síntese, o discurso da ciência é eminentemente argumentativo. Desta forma, o desenvolvimento das competências próprias da argumentação constitui um objectivo relevante do ensino/aprendizagem das ciências” (COSTA, 2008, p.1).
“ciência progride através de discussão, conflito e argumentação e não através de concordância geral e imediata. Em síntese, o discurso da ciência é eminentemente argumentativo. Desta forma, o desenvolvimento das competências próprias da argumentação constitui um objectivo relevante do ensino/aprendizagem das ciências” (COSTA, 2008, p.1).
Consideramos que a formação científica de crianças, jovens e adultos
tem se constituído em uma problemática tanto para professores, como para as
pesquisas do campo da educação e da educação em ciências, assim como para as
políticas públicas preocupadas em evidenciar avaliações que situem o país em patamares aceitáveis
frente à comunidade internacional.
O estudo e a elaboração
do material educativo que apresentamos se inicia com a necessidade de
problematizarmos e construirmos alternativas didáticas que, diante das restritas
condições materiais das escolas públicas, possam servir como possibilidade crítica
ao processo de ensino-aprendizagem.
Partindo destes pressupostos, pretende-se
a elaboração e uso de materiais educativos –clippings – como instrumento
facilitador do processo de aprendizagem de questões sociocientíficas,
principalmente aquelas baseadas em ‘controvérsias sociocientíficas’, isto é,
que mostram a natureza e a produção da Ciência como um processo em constante
debate e transformação. Pretende-se também fugir ao debate do senso comum,
geralmente imposto pelas mídias mercantis de grande circulação que apresentam
sempre o produto final da ciência e sob a perspectiva de seus interesses de
classe, ideológicos.
A iniciativa também se fundamenta na
necessidade de construirmos uma visão crítica sobre o uso de metodologias
didáticas que possam favorecer o processo argumentativo de alunos da Educação
Básica - Ensino Fundamental e Médio. Partimos das teorias cognitivas
contemporâneas, que compreendem os alunos como atores centrais na construção do
conhecimento, e que necessitam estar inclusos em processos de
ensino-aprendizagem onde o engajamento em atividades discursivas variadas possa
se materializar. Principalmente se o objetivo está na formação de cidadãos
críticos e em sua formação científica. Dessa forma, temos como hipótese
primeira que alunos engajados em processos dialógicos (MORTIMER e SCOTT, 2002)
possuem grandes chances de se apropriarem do conhecimento científico-escolar.
Tendo como ponto de partida a linha teórica
que entende o discurso como ideológico e, que aprender sobre a ciência requer a
apropriação da linguagem da ciência (SUTTON, 1992; LEMKE, 1990), buscamos a
elaboração de textos (texto escrito/texto imagético/ texto oral) como material
de caráter didático-pedagógico que estimulem esta aquisição.
As diversas perspectivas que nos
orientam compreendem: (i) o processo
educativo como um processo dialógico; (ii) a argumentação como parte
fundamental da construção do pensamento científico e da capacidade discursiva
dos alunos; (iii) a argumentação não só como estratégia para a apropriação de
novos conhecimentos, mas também para a sua crítica; (iv) o uso do texto – oral,
escrito, imagético – por meio da ferramenta ‘blog’ como material educativo
propício para o debate crítico sobre temas sociocientíficos.
Mais adiante, pretendemos interagir com
os professores usuários dos materiais educativos, na busca por uma avaliação
sistemática do trabalho desenvolvido e, principalmente, conhecer mais de perto
as estratégias promotoras da argumentação em suas salas de aula. Acreditamos
que a experiência e a pesquisa poderão nos auxiliar na elaboração de materiais
cada vez mais sintonizados com as necessidades de ensino-aprendizagem.
Pontos
de partida para a orientação do trabalho pedagógico com as escolas/professores:
A partir do
diálogo teórico e no processo de criação do material, alguns pressupostos se
tornaram fundamentais para a orientação do trabalho e escolhas em relação ao
seu formato. Destacamos:
1.
A Ciência não está pronta, acabada. Qualquer objeto da
ciência, ou que se preste à investigação científica está em ‘construção’;
2.
Estando a ciência em processo de construção, ela se
presta a controvérsias, isto é, disputas internas na comunidade que produz o conhecimento.
Apresentada em sua forma inacabada, disputada, a ciência será melhor
reconhecida como parte da ideologia dominante e das disputas que se travam no
campo social e, portanto, poderá ser reconhecida como uma construção ideológica;
3.
Nem a ciência e sua divulgação, nem mesmo o ato
educativo são atividades neutras;
4. Tampouco as mídias mercantis, aquelas produzidas por empresas
de comunicação possuem qualquer compromisso com a neutralidade. Elas
selecionam, pautam e divulgam apenas o que lhes interessa e, muitas vezes,
propagam erros conceituais graves que podem se perpetuar. Por sua
disponibilidade e acessibilidade são estas informações que chegam ao grande
público;
5.
O professor deixa de ser ‘piloto’ do material produzido
por outros e passa a autorar seu próprio material didático (autonomia
intelectual), ao mesmo tempo em que se atualiza com as novidades científicas. O
professor terá de assumir as escolhas curriculares – ideológicas e políticas –
e também reconhecer sua posição de classe trabalhadora;
6.
O aluno costuma aprender melhor em “interação” com o
objeto do conhecimento. Aprender a argumentar, a defender suas ideias, por
exemplo, ao buscar novas informações, tem estimulada sua aprendizagem e a
produção de conhecimento. O aluno precisará aprender a fazer escolhas a partir
de sua posição de classe, ideológica.
7.
As novas tecnologias da informação e comunicação estão
mais próximas do universo dos alunos. Os blogs, por exemplo, podem ser criados
e autorados com agilidade, além de serem de fácil
acesso por computadores, tablets, smart fones etc.
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Projeto Fundão/ biologia - CCS/ FE
IB, sala: D-23
Coordenação:
Cláudia Piccinini
Equipe Atual:
Maiara Pereira Barreto (Licencianda em Ciências Biológicas - UFRJ)
Maria Júlia Lima Rocha (Licencianda em Ciências Biológicas - UFRJ)
André Wanderley do Prado (Bacharelando em Zoologia - UFRJ)
Juliana Lima de Asevedo (Licencianda em Ciências Biológicas - UFRJ)
Jacykaysla Pacheco da Silva (Licencianda em Ciências Biológicas - UFRJ)
Bruna da Costa Campana (Estudante do Ensino Médio - CPII)
André Wanderley do Prado (Bacharelando em Zoologia - UFRJ)
Juliana Lima de Asevedo (Licencianda em Ciências Biológicas - UFRJ)
Jacykaysla Pacheco da Silva (Licencianda em Ciências Biológicas - UFRJ)
Bruna da Costa Campana (Estudante do Ensino Médio - CPII)