Reintroduzir espécies exóticas ou não?
Alguns
pesquisadores propõem fazer com que processos ecológicos perdidos há milhares
de anos, no período em que ocorreu a divisão das Américas com o continente africano,
ao final do Pleistoceno (época geológica caracterizada pelo surgimento e
evolução do Homo sapiens), retornem
através do transporte de populações de grandes vertebrados africanos e
asiáticos para o continente americano. A ideia surgiu porque existe uma forte
evidência de que a megafauna nas Américas da época foi levada à extinção pela
caça executada por humanos (Martin & Klein, 1984), causando a perda de
muitas interações ecológicas, como por exemplo, a dispersão de sementes e frutos
comidos por esses animais extintos (Janzen & Martin, 1982). Segundo os
pesquisadores que defendem esta opção, esta seria uma solução para os grandes
mamíferos da África que hoje morrem encalhados em um continente com poucos recursos
para a sua sobrevivência.
Estes
ecólogos apoiam a reintrodução das espécies e esperam que os animais substituam
os que desapareceram há 13.000 anos, e que tragam de volta os processos ecológicos
que, indiretamente, foram interrompidos por seres humanos, o que permitiria a
recriação dos ecossistemas naturais nas Américas antes das extinções. Eles defendem
que a megafauna desses continentes compartilham suas histórias evolutivas. Além
disso, há indícios na América do Norte que relatam a existência de frutos que
eram comidos pela megafauna já extinta, e que poderiam ressurgir pelas interações
ecológicas desaparecidas com a extinção.
Oliveira-Santos
& Fernandez (2009), dizem que estes pontos são importantes, mas não são
suficientes para se acreditar que a reintrodução seja uma boa alternativa para
a conservação das espécies da megafauna africana. O maior problema seria
restaurar interações perdidas sem o risco de contrair novas interações
indesejadas, incluindo a disseminação de doenças. Muitas espécies poderiam
adquirir novas funções ecológicas imprevisíveis quando introduzidas em um novo
ambiente, muitas vezes levando as populações e comunidades nativas para
destinos trágicos, como verificado em pesquisas sobre o controle biológico,
onde metade das espécies introduzidas tornaram-se pragas (Hokkanen & Lynch,
1995).
Para
Oliveira-Santos & Fernandez (2009), se a reintrodução ignorar essas lições,
o risco de extinção e de redução irreversível das populações nativas de muitas
espécies será elevado. Muitos estudiosos dizem ter pouca razão para acreditar
que seria sensato introduzir muitos animais de grande porte, que potencialmente
poderiam ter grandes efeitos sobre os ecossistemas de hoje e, em seguida,
esperar que processos ecológicos semelhantes àqueles que existiam no final do
Pleistoceno, sejam recriados nos dias de hoje.
VAMOS DEBATER...
- É possível prever se os efeitos da reintrodução de espécies em um ecossistema?
- Será que a reintrodução de novas espécies seria umaalternativa para recriar ecossistemas e interações vividas há 13.000 anos?
Bibliografia:
- Oliveira-Santos, L.G.R. & Fernandez, F.A.S. Pleistocene rewilding, frankenstein ecosystems, and an alternative conservation agenda. Conservation Biology, Volume 24, nº 1, 4-6, 2010.
- Donlan, Josh et al. Re-wilding North America. Nature. Volume 436, 18 de agosto de 2005.
AUTORAS:
Joice Silva
Leite & Marina Maldonado Marins de Souza
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