O cientista Mark Post, chefe do
Departamento de Fisiologia da Universidade de Maastricht, na Holanda,
desenvolveu o primeiro hambúrguer de laboratório, ou seja, com carne sintética.
Em uma placa de petri, o laboratório utilizou no procedimento células tronco de
vaca, para reproduzir tiras de tecido muscular do animal. De
forma artificial, essas células foram nutridas com sangue e gordura, e o hambúrguer
tão esperado, de 140 gramas, já foi apelidado de "frankenburger" e custou
cerca de R$ 542 mil.
Após
uma longa espera, o hambúrguer foi preparado pelo chefe britânico Richard
McGowan e provado pelo crítico gastronômico americano Josh Schonwald e pela
nutricionista austríaca Hanni Ruetzler. Segundo os especialistas, o hambúrguer
estava um pouco seco, faltou sal e pimenta, mas afirmaram que é carne de
verdade.
Dentre
os objetivos dessa pesquisa, não se incluía criar um produto para os
vegetarianos, já que não acontece o abate de bovinos. Seu verdadeiro motivo é tentar diminuir o impacto ambiental, causado pelo desmatamento de florestas para transformação em áreas de criação de gado para o gênero alimentício, para suprir a demanda exigida pelo aumento da população mundial nos últimos tempos. Especula-se que
entre 10 e 20 anos essa carne sintética já estará disponível no mercado.
Quando
questionado sobre os possíveis riscos do consumo do produto artificial, o
criador respondeu "O tecido criado é igual ao da carne, então não teria
porque não ser seguro" e acrescentou "Nós provavelmente podemos fazer
com que ele seja até mais seguro do que a carne comum".
A proposta de comer carne sintética não
parece muito atraente, especialmente por ainda não sabermos como será o seu
sabor ou textura, e muito menos se será realmente seguro consumir esse tipo de alimento.
Os pesquisadores dizem que
a tecnologia poderia ser uma forma sustentável de suprir a
crescente demanda por carne. Mas críticos da ideia dizem que comer menos carne
seria o jeito mais fácil para compensar a já prevista falta de comida no mundo.
Para Tara Garnett, que é chefe da Food
Policy Research Network (um centro de pesquisas da área de alimentos) da
Universidade de Oxford, na Inglaterra, é necessário olhar além das soluções
técnicas na área de segurança alimentar:
"Nós temos uma situação onde 1,4 bilhão de pessoas no mundo ficam obesas da noite para o dia e, ao mesmo tempo, um bilhão de pessoas no mundo todo vão para a cama com fome", ressalta. "Isso é simplesmente estranho e inaceitável. As soluções não se estabelecem na produção, mas na mudança dos sistemas de suprimento e acesso, com barateamento. E mais e melhores alimentos para pessoas que precisam deles", critica.
A escritora especializada em alimentos, Sybil Kappor, diz que sentiria dificuldades em comer a carne de laboratório:
“Quanto mais longe você vai do normal, de uma dieta natural, mais corre riscos de saúde e outras questões", ressalta.O último levantamento da Organização para Alimentação e Agricultura das Nações Unidas sobre o futuro da produção de alimentos, mostra o crescimento da demanda por carne na China e no Brasil - e o consumo só não cresce mais porque muitos indianos, por exemplo, mantêm a dieta amplamente vegetariana por costume cultural.
Assim, há o risco de que a carne
produzida em laboratório seja uma aparente solução, cheia de problemas.
A PERGUNTA QUE NÃO QUER CALAR:
- Comer ou não comer carne sintética?
PARA ESQUENTAR O DEBATE, ASSISTA AOS VÍDEOS:
processo de extração das células que dão origem à carne sintética
reportagem sobre o primeiro hambúrguer de laboratório
Autoria
Gabriela Ferreira Ramiro de Souza e Joselane Araujo
(licenciandas de ciências biológicas - UFRJ)
0 comentários:
Postar um comentário