Fofoca em alto-mar:existe conversa entre golfinhos?
Golfinhos são largamente conhecidos
por sua inteligência e uma alta capacidade de estruturação em grupos sociais
complexos. Como o ambiente aquático apresenta limitações à visão, a comunicação
entre os indivíduos é preferencialmente pelo som. A grande diversidade
populacional, bem como a complexidade das atividades realizadas por estes
mamíferos, estratégias de pesca, por exemplo, exigem um sistema eficiente de
comunicação. Dentre os sons produzidos por estes animais, os mais comuns são os
assovios que podem servir, dentre outras coisas, como um sinal de
reconhecimento individual, chamado de assovio assinatura.
Em 2001, a autora Brenda McCowan da
Universidade da Califórnia, publicou um polêmico artigo dizendo que o assovio
assinatura é uma "falácia" (palavras da autora). Neste estudo, a
autora gravou vocalizações de golfinhos em cativeiro na Califórnia. Desta forma,
ela podia separar que indivíduo produzia qual som. Depois da análise das
gravações a autora concluiu que todos os tipos de assovios eram compartilhados
pelos indivíduos daquele cativeiro, de modo que não havia nenhum sinal de
reconhecimento individual.
Já em 2009, as autoras Luciana
Figueiredo e Sheila Simão da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro,
publicaram um trabalho que se contrapunha as observações de McCowan. Neste
estudo, foram gravados grandes grupos de golfinhos em ambiente natural,
constatando ao fim que havia sinais de reconhecimento individual.
A grande questão é que a diferença
nas populações analisadas (pequena população de cativeiro e grande população
natural) pode ter gerado a diferença nos resultados. Assim, uma pequena
população de cativeiro não encontra grande necessidade de reconhecimento
individual uma vez que não emprega atividades sociais complexas (como pesca em
grupo ou briga por posição social no grupo). Já uma numerosa população natural
possui grande necessidade de comunicação para manter o grupo coeso e organizado.
Por outro lado, a população com grande número de indivíduos e em ambiente
livre, apresenta limitação metodológica, uma vez que é difícil estabelecer qual
indivíduo produz cada vocalização, problema que não ocorre em cativeiro. Outra
conclusão possível seria que os resultados diferentes refletem padrões
populacionais diferentes.
QUESTÕES PARA O DEBATE:
Com base nos
resultados obtidos pelas pesquisadoras, é possível inferir se de fato existe ou
não algum tipo de comunicação de reconhecimento individual entre os golfinhos? Na
sua opinião, em qual situação os dados produzidos são mais confiáveis, em
cativeiro ou na natureza?
Será que a
comunicação de reconhecimento individual em uma população é essencial para sua
sobrevivência? Pense no exemplo das populações humanas.
Bibliografia:
Figueiredo, L. D.;
Simão, S. M. (2009). Possible occurrence of signature whistles in a population of Sotalia
guianensis (Cetacea, Delphinidae) living in Sepetiba Bay, Brazil. Acoustical Society of
America. p. 1563-1569.
McCowan, B., and Reiss, D.
(2001). The fallacy of ‘signature whistle’ in bottlenose dolphins: A
comparative perspective of ‘signature information’ in animal vocalizations.
Animal Behavior. 62, p. 1151–1162.
Autores:
Israel Maciel & Daniel Cerqueira (Licenciandos do
curso de Ciências Biológicas/UFRJ).
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