Árvores cujas sementes são
dispersas por animais conseguem resistir mais à redução e à fragmentação de
florestas do que aquelas que dependem apenas da ação do vento. Pelo menos é
isso que afirma uma pesquisa realizada pela Universidade de Alcalá, Espanha. A
explicação parece um tanto óbvia e na verdade é mesmo: acontece que a dispersão
animal – por mamíferos e, principalmente, aves – tende a espalhar as sementes
em locais mais favoráveis à germinação. Desta forma, a zoocoria1
aumentaria as chances de sobrevivência de espécies vegetais frente a um cenário
de desmatamento pelo simples fato de que os animais têm a capacidade de
mover-se e, com isso, levariam as sementes ligando um pedaço de mata ao outro. Já no caso do vento, a disseminação ocorre de
forma aleatória e a distâncias mais curtas, fazendo com que as árvores lutem
para sobreviver.
Enquanto
isso, aqui no Brasil, terra de grande diversidade vegetal e animal, a realidade
não é muito diferente. Muitas espécies vegetais de ecossistemas tropicais têm
suas sementes dispersas por animais, sobretudo as aves. E, em se tratando do
Pantanal, essa relação é exemplificada pelo manduvi (Sterculia apetala; Figura1) e o tucano-toco (Ramphastos toco, Figura 2). O manduvi é uma árvore de grande porte encontrado
apenas em áreas florestais, o que corresponde a uma pequena porção do Pantanal.
Suas sementes servem de alimento para muitas espécies de aves como araras, papagaios, periquitos, tuins, urubus,
patos-do-mato e os tucanos, sendo este último o principal dispersor da espécie
vegetal, pois consegue ingerir as sementes inteiras e espalhá-las pela extensa
área onde voa. Além disso, o manduvi também serve de abrigo para essas mesmas espécies,
com um grande destaque para a arara-azul (Anodorhyncus
hyacinthinus, Figura 3), uma espécie ameaçada de extinção que constrói a
maioria de seus ninhos em ocos de árvores dessa espécie. Dessa forma, a
reprodução das araras está diretamente ligada à relação entre o tucano-toco e o
manduvi. No entanto, um estudo realizado no Pantanal comprovou que, além das
sementes dessa árvore, os tucanos também se alimentam dos ovos das próprias
araras azuis.
Para ambos os grupos de pesquisa, tanto na Espanha quanto no
Brasil, o alerta é para a manutenção da biodiversidade e conservação das
relações entre animais e plantas, que
podem aumentar a biodiversidade regional, estabilizar ecossistemas e amenizar
os efeitos de perturbações ambientais.
Referências
http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/ecologia-e-meio
ambiente/inimigointimo/?searchterm=inimigo%20%
C3%
ADntimo, acessado em 14/10/2013.
http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/ecologia-e-meio-ambiente/aliados-pela-sobrevivencia/,
acessado em 14/10/2013.
http://www.wikiaves.com/flora:manduvi,
acessado em 20/10/2013.
http://www.wikiaves.com/tucanucu?s[]=tucano&s[]=toco, acessado em
20/10/2013.
http://www.wikiaves.com/arara-azul-grande, acessado em
20/10/2013.
Questões para debate
1)
“Uma espécie deve ser conservada porque é importante para o ecossistema e
porque dela dependem outras espécies.” Essa é uma afirmação feita por um dos
pesquisadores espanhóis, o qual defende a preservação sob a perspectiva funcional
e não influenciada por “razões passionais”. Qual seria, então, a melhor opção:
conservar sob a ótica das relações entre as espécies ou deve-se continuar
apostando em políticas de conservação de espécies emblemáticas como o
tucano-toco e a arara-azul?
2)
Uma das principais causas de perda de espécies é a redução do hábitat,
ilustrado no Pantanal, pelo desmatamento de áreas florestais para pastagens. No
caso da trama arara-azul/manduvi/tucano-toco, de forma bem simplificada, como
você elaboraria um plano de manejo e conservação dessas espécies?
1Zoocoria:
termo utilizado em Botânica para definir um método de dispersão de sementes
pela ação de animais em geral.
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