Macacos: ser ou não ser?Do racismo à evolução biológica.
Recentemente,
um ato de racismo ocorreu em um jogo de futebol envolvendo um famoso jogador
brasileiro. O racismo se manifestou quando uma banana foi lançada ao campo onde
o jogador se preparava para cobrar um escanteio, o ato sugeria: “você é um
macaco”!
Quais seriam
os motivos por trás de tal gesto? Foi um ato de racismo? Desespero de uma
torcida mal educada em meio a uma disputa do futebol?
O bom desse
evento foi ter reacendido o debate: qual é a nossa semelhança com os
primatas?
Saindo dos
holofotes da mídia e tomando por base o conhecimento científico, podemos com
certeza afirmar que o atirador de bananas pouco conhece sobre
a genética humana, afinal TODO SER HUMANO possui 98,5 % de similaridade gênica
com os primatas (1,2), e não só os de pele mais escura, como no caso o jogador
Daniel Alves. Além do mais, esta parece ser uma comparação superficial,
afinal, o ambiente cultural do homem pode ser considerado mais rico que o dos
primatas. Sob outro olhar, nós humanos seríamos apenas “o ponto mais
desenvolvido de uma tendência do grupo taxonômico” ao qual pertencemos (2).
“Entre todos os mamíferos, os primatas distinguem-se como os animais que
obtiveram maior êxito evolutivo. Uma de suas subordens, a dos antropoides,
inclui o homem, de estreitas afinidades estruturais e bioquímicas com os
demais,[...].” (3)
Consequências
da polêmica: o caso foi registrado pelo árbitro do jogo como racismo, o
torcedor banido do estádio de futebol e o Facebook bombou com a campanha
“#somostodosmacacos”. O fato é que toda essa especulação levanta algumas
questões importantes quanto à maneira como nos vemos e o que conhecemos sobre nossos
parentescos com outras espécies animais.
Entretanto,
existe outra face importante desta discussão. Por exemplo, existem políticas públicas,
como as leis 12.711/2012 (Lei das cotas raciais) e a 1.390/ 51 (Lei contra o
racismo), que implicam em enquadrar os indivíduos em padrões de acordo com a
cor de sua pele. Consequência e causa de uma tentativa de divisão da
população com relação à cor da pele, o que ‘justificaria’, dentre outras coisas,
a exclusão de negros do mercado de trabalho ou do ensino superior público.
Mas, o que
distingue a cor da pele? A pesquisadora Luciana Miot e seus colaboradores
(2009) nos explicam:
“acredita-se
que as variações, na cor da pele, sejam ganhos evolutivos e estejam
relacionadas com a regulação da penetração da radiação ultravioleta (RUV). A
cor da pele humana normal é principalmente influenciada pela produção de
melanina, um pigmento castanho denso, de alto peso molecular, o qual assume o
aspecto enegrecido, quanto mais concentrado”. (4)
Também é importante saber que o pigmento caroteno
(amarelo), a síntese de vitamina D na pele, a degradação de ácido fólico pela
RUV, a resistência à exposição solar e variados elementos culturais são fatores
que, juntos, interferem na cor da pele em diferentes locais do planeta.
Este ato de racismo demonstra que não só em nosso
país existe segregação quanto à cor da pele. Também é perceptível que as políticas
adotadas pelo governo brasileiro ao invés de solução do problema, acabam criminalizando
ou criando paliativos de curto prazo. Do ponto de vista científico, não é
possível visivelmente determinar a porcentagem negra ou branca de alguém. Geneticamente
falando, isso só é possível mediante um exame de DNA.
Questão para
debate:
Em grupos, discutir
e montar uma tabela identificando as pessoas por características biológicas
diversas, como por exemplo: cor de pele, cabelos, olhos etc. Depois analisar
estes resultados e calcular qual é o grupo dominante em sala de aula. Fazer o
mesmo levando em consideração as características socioeconômicas, como por
exemplo: onde moram, renda familiar, onde estudam etc.
Ao final
compare o resultado das duas tabelas. O que se pode concluir?
Bibliografia utilizada:
(1) http://www.pnas.org/
(6) MIOT, Luciane D.B. et al. Fisiopatologia do
melasma. Anais Brasileiros de Dermatologia, 2009. Veja em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0365-05962009000600008
Imagens de reprodução da internet.
Autoria
Maria Júlia Lima –
(Licencianda em Ciências
Biológicas –
UFRJ / CCS / FE; Bolsistas PIBEX – UFRJ).
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