Get me outta here!

segunda-feira, 24 de março de 2014

Ligando os fatos


  


                                                        





Árvores cujas sementes são dispersas por animais conseguem resistir mais à redução e à fragmentação de florestas do que aquelas que dependem apenas da ação do vento. Pelo menos é isso que afirma uma pesquisa realizada pela Universidade de Alcalá, Espanha. A explicação parece um tanto óbvia e na verdade é mesmo: acontece que a dispersão animal – por mamíferos e, principalmente, aves – tende a espalhar as sementes em locais mais favoráveis à germinação. Desta forma, a zoocoria1 aumentaria as chances de sobrevivência de espécies vegetais frente a um cenário de desmatamento pelo simples fato de que os animais têm a capacidade de mover-se e, com isso, levariam as sementes ligando um pedaço de mata ao outro.  Já no caso do vento, a disseminação ocorre de forma aleatória e a distâncias mais curtas, fazendo com que as árvores lutem para sobreviver.
Enquanto isso, aqui no Brasil, terra de grande diversidade vegetal e animal, a realidade não é muito diferente. Muitas espécies vegetais de ecossistemas tropicais têm suas sementes dispersas por animais, sobretudo as aves. E, em se tratando do Pantanal, essa relação é exemplificada pelo manduvi (Sterculia apetala; Figura1) e o tucano-toco (Ramphastos toco, Figura 2). O manduvi é uma árvore de grande porte encontrado apenas em áreas florestais, o que corresponde a uma pequena porção do Pantanal. Suas sementes servem de alimento para muitas espécies de aves como araras, papagaios, periquitos, tuins, urubus, patos-do-mato e os tucanos, sendo este último o principal dispersor da espécie vegetal, pois consegue ingerir as sementes inteiras e espalhá-las pela extensa área onde voa. Além disso, o manduvi também serve de abrigo para essas mesmas espécies, com um grande destaque para a arara-azul (Anodorhyncus hyacinthinus, Figura 3), uma espécie ameaçada de extinção que constrói a maioria de seus ninhos em ocos de árvores dessa espécie. Dessa forma, a reprodução das araras está diretamente ligada à relação entre o tucano-toco e o manduvi. No entanto, um estudo realizado no Pantanal comprovou que, além das sementes dessa árvore, os tucanos também se alimentam dos ovos das próprias araras azuis.
Para ambos os grupos de pesquisa, tanto na Espanha quanto no Brasil, o alerta é para a manutenção da biodiversidade e conservação das relações entre animais e plantas, que podem aumentar a biodiversidade regional, estabilizar ecossistemas e amenizar os efeitos de perturbações ambientais.
 


Referências
http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/ecologia-e-meio ambiente/inimigointimo/?searchterm=inimigo%20%
C3% ADntimo, acessado em 14/10/2013.
http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/ecologia-e-meio-ambiente/aliados-pela-sobrevivencia/, acessado em 14/10/2013.
http://www.wikiaves.com/flora:manduvi, acessado em 20/10/2013.
http://www.wikiaves.com/tucanucu?s[]=tucano&s[]=toco, acessado em 20/10/2013.
http://www.wikiaves.com/arara-azul-grande, acessado em 20/10/2013.

Questões para debate

1) “Uma espécie deve ser conservada porque é importante para o ecossistema e porque dela dependem outras espécies.” Essa é uma afirmação feita por um dos pesquisadores espanhóis, o qual defende a preservação sob a perspectiva funcional e não influenciada por “razões passionais”. Qual seria, então, a melhor opção: conservar sob a ótica das relações entre as espécies ou deve-se continuar apostando em políticas de conservação de espécies emblemáticas como o tucano-toco e a arara-azul?

2) Uma das principais causas de perda de espécies é a redução do hábitat, ilustrado no Pantanal, pelo desmatamento de áreas florestais para pastagens. No caso da trama arara-azul/manduvi/tucano-toco, de forma bem simplificada, como você elaboraria um plano de manejo e conservação dessas espécies?

1Zoocoria: termo utilizado em Botânica para definir um método de dispersão de sementes pela ação de animais em geral.

AUTORIA: GABRIELA FERNANDES PINTO E BRUNA CARLA DOMINGUES FERNANDES – Licenciadas em Ciências Biológicas



   







0 comentários:

Postar um comentário